do New
York times
POR ROD NORDLAND
SETEMBRO 16, 2016
Restos de uma capela incendiada em
Ismaília; tensão entre cristãos e muçulmanos cresce no Egito (Khaled
Desouki/Agence France-Presse — Getty Images)
|
MINIA, Egito — O governo egípcio nomeou recentemente o imã Mahmoud
Gomaa para manter a paz entre cristãos e muçulmanos em uma parte do Alto Egito.
“Está tudo bem”, insistiu ele, citando a participação dos cristãos na
sua iniciativa oficial de pacificação. Mas, poucas horas depois, o bispo local,
Makarios, manifestou uma visão bem diferente. “Não tenho nada a ver com Mahmoud
Gomaa”, disse.
Mais uma vez, os cristãos egípcios estão se sentindo sitiados, pelo
menos em Minia, uma cidade às margens do Nilo onde cerca de 40% da população é
cristã. E, mais uma vez, os líderes cristãos estão divididos sobre como reagir.
Há nos altos escalões da Igreja Ortodoxa Copta um esforço de colaborar
com o governo nacional para transmitir uma imagem de unidade. Após uma série de
ataques contra os coptas nos últimos meses, o papa copta, Tawadros 2º, pediu a
seus seguidores nos Estados Unidos que evitem fazer protestos para chamar a
atenção internacional para a violência.
Mas, em Minia, onde a violência contra os cristãos muitas vezes se
inflama, os líderes coptas locais relutam em se manter passivos. “Estamos num
ponto de ruptura”, disse o bispo Makarios. “As pessoas não aguentam mais.”
A comunidade cristã do Egito, estimada em 10% da população nacional,
manteve durante muito tempo uma relação simbiótica com o Estado. O governo
proporcionava segurança num ambiente cada vez mais hostil, e a liderança cristã
ajudava a mostrar ao Ocidente uma faceta de tolerância e liberdade religiosa.
Esse pacto se esgarçou nos últimos anos do regime de Hosni Mubarak e
parecia ter se desfeito quando o ditador foi derrubado e substituído por um
presidente islamita eleito pelo voto popular, Mohammed Mursi. Os ataques a
igrejas, liderados por jovens islâmicos, cresceram.
Por isso, quando o general Abdel Fattah al-Sisi depôs Mursi e ocupou a
Presidência, em 2013, a Igreja Copta estava entre seus maiores apoiadores. Em
janeiro de 2015, Sisi participou das celebrações do Natal copta e foi elogiado
por ser o primeiro líder egípcio a fazê-lo.
Mas os limites desse apoio ficam evidentes em Minia, onde os cristãos
continuam a sofrer violência e humilhações. Casas foram queimadas, coptas foram
atacados nas ruas, e pichações de ódio foram pintadas nas paredes de algumas
igrejas. As autoridades coptas contabilizaram 37 ataques nos últimos três anos,
sem incluir cerca de 300 outros logo depois da deposição de Mursi e da sua
Irmandade Muçulmana, em 2013.
O ponto de inflexão para os coptas locais ocorreu em maio, quando uma
cristã idosa teve as roupas arrancadas por uma multidão, incitada pelos rumores
de que o filho da mulher estava em um relacionamento com uma muçulmana.
“Depois que aquela mulher foi desnudada, não podíamos mais ficar
quietos — não depois disso”, afirmou o bispo Makarios. O que mais irritou os
coptas, segundo ele, “foi que as autoridades vieram negar o incidente”.
“Se tivessem se desculpado ou dito que investigariam o caso seria
diferente, mas isso foi um insulto ao Egito e às mulheres do Egito”,
acrescentou.
Não só a moça muçulmana não se relacionava com o filho da mulher
atacada como, segundo o bispo, está processando o próprio marido por injúria,
acusando-o de ter criado o boato.
Para o imã Gomaa, os ataques em Minia resultam de pequenas disputas que
por acaso contrapuseram cristãos e muçulmanos. “Ninguém morreu”, disse ele.
“Ninguém nem sequer se feriu. Não há conflito. O problema é com os jornalistas
que ficam escrevendo sobre isso.”
Na verdade, segundo o bispo, houve mortes. Em julho, na aldeia de Tahna
al-Jabal, cerca de Minia, um cristão foi assassinado a facadas por uma turba,
disse Makarios. Um mês antes, no Sinai, um padre foi morto por extremistas do
Estado Islâmico, tornando-se a nona vítima copta da violência dessa milícia
terrorista no norte do Sinai.
Um suspeito foi preso pelo esfaqueamento, mas, para o bispo, deverá ser
libertado, a julgar pelo padrão visto após outros ataques contra cristãos.
“Em ataques como esses, todos são soltos, nem um só [agressor] foi
punido até agora, e isso é que realmente perturba os coptas. Enquanto ninguém
for punido, isso só vai piorar.”
Os coptas também se queixam de que estão sendo proibidos pela polícia
de abrir novas igrejas, devido a supostas razões de segurança.
Em Ismaília, os coptas foram orientados pelas autoridades a rezar numa
tenda, mas essa tenda recentemente foi incendiada. Dois rapazes acusados de
atear fogo ao local foram libertados.
“A polícia diz que as igrejas não podem abrir por preocupação com a
segurança?”, disse Abram Samir, funcionário laico da igreja. “É
responsabilidade deles me proteger e me deixar exercer meus direitos.”
Nour Youssef colaborou na reportagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário