Da Folha de Pernambuco 19/11/2012 02:02 – Por Hugo Vaz*
Seria justificável incluir o sentimento racista
antissemítico no rol das afecções denominadas alérgicas pela Medicina moderna?
Certo ramo da Psicologia tem, na verdade, pretendido incluir essa ojeriza, esse
nojo orgânico, essa anormalidade psíquica contra judeus na classe de
manifestações sensoriais de natureza psicossomática.
A propósito, Jean Paul Sartre (1905-1980), filósofo,
escritor e crítico francês, expoente da filosofia existencialista, acreditava
firmemente que os intelectuais teriam de desempenhar papel ativo na sociedade.
Na sua obra REFLEXIONS SUR LA QUESTION JUIVE (Gallimard, Paris - Quatrieme
Edition, 1954 - “Reflexões Sobre a Questão Judaica”) ele se refere ao fato de
determinados indivíduos que se veem, de súbito, inibidos sexualmente quando
descobrem a nacionalidade judaica da mulher com quem fazem o congresso carnal:
“Certains hommes sont frappés soudain d’impuissance s’ils qui ils font l´amour
qu’elle est Juive”…(“Alguns homens se tornam subitamente impotentes quando, ao
tentar fazer amor, descobrem que se trata de mulher judia...)
Parecem inacreditáveis a permanência e a conservação de
preconceito de tal monta, não obstante a evolução natural que já deveriam ter
atingido todas as culturas do nosso tempo, especialmente pelo curso do
desenvolvimento inestimável alcançado pela Psicologia, uma das ciências talvez mais
capacitadas para interpretação e compreensão do odioso fenômeno. A continuidade
de tal preconceito, lado a lado com o elevado índice de conhecimento e saber do
homem moderno, é fenômeno psicossocial muito curioso, que se tem agravado
vergonhosamente em face da permissão e da continuidade do preconceito, que
chega a interferir seriamente até na esfera da vida psíquica do racista
antissemita.
Determinado sujeito é bom e idôneo até o instante em que não
se lhe descobre a nacionalidade judaica “imunda”... A partir do momento em que
a condição hebraica se expõe à identificação, passa a ser ele considerado
indivíduo “sujo”, “ambicioso”, “avarento”, “pegajoso”, “imoral”, “estúpido”
etc.
Quando ninguém havia ainda notado o seu “nez-crochu” (o
“nariz adunco”
característico dos semitas, nariz em forma de gancho,
“nariz-de-papagaio”), traços fisionômicos reveladores da fisionomia
inconfundível do judeu, descobrindo-se-lhe então sua origem nacional, passa ele
a ser repelido, revelando-se de imediato não só os traços característicos do
nariz adunco, mas o olhar de ambição famélica, a clara expressão da avareza,
como se sua “negra alma” derramasse sujidades pelo canto dos olhos...
O fenômeno é bastante curioso quando estaca, complexo, em
determinado ponto da questão: se esse nojo é de natureza essencialmente
corporal; se puramente psíquico, ou se reúne ambos os fatores da ordem das
sensações psicossomáticas. O argumento de Jean Paul Sartre parece não deixar
dúvida quanto à evidente ambivalência psicossomática do fenômeno: “Et ce n’est
donc pás du corps que nait cette répulsion puisque vous pouvez fort blen almer
une Juive si vous ignorez sa race, mais elle vient au corps par l’esprit; c’est
um engagement de l’âme mais si prefond et si total qu’il s’étend au physiologique,
comine c’est le cas dans l’hystérie”. “E este preconceito (esse nojo), não é do
corpo que nasce essa repulsão forte quando você pode amar uma mulher judia, se
você ignora sua raça, mas ele (o preconceito) vem do corpo para o espírito; é
um compromisso da alma, que se aprofunda e se estende fisiologicamente a um
caso de histeria.”
O mecanismo do sentimento preconceituoso é tão profundo e
absoluto, tão sistemático, que para o racista antissemita o fato de o genial
físico alemão Albert Einstein ter sido judeu seria uma aberração da Natureza,
um desses erros inexplicáveis da Criação... Sem contar os movimentos
pogromistas (do idioma iídiche pogrom:’devastação´,´destruição´) anteriores à
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quantos milhões de judeus já foram sacrificados
pelo preconceito absurdo do antissemitismo! Só na Alemanha nazista, o
tresloucado Adolf Hitler (1889-1945), teria feito assassinar 6 milhões de
semitas! Na Rússia czarista, outro exemplo, uma série de pilhagens, agressões e
assassinatos foram cometidos contra a comunidade judaica, com clara
aquiescência das autoridades tzaristas.
Na Rússia e na Polônia, na França e na Alemanha, na Europa e
nas Américas, o predomínio desse sentimento de raízes históricas e mórbidas tem
representado um atestado triste da ignorância de determinados grupos sociais,
ainda marginalizados da verdadeira cultura cristã, piedosa, humanística. Tal
sentimento de repulsa contra judeus parece pertencer à classe das emoções que
se eternizaram na pobre e carente alma popular: a permanente necessidade de um
picadeiro circense, tendo no centro inocente palhaço risível, inocente ... O
judeu tem sido até hoje o fantoche em cujo circo brilham as luzes da estupidez
humana, iluminando cruéis “pogrons” pelo mundo
afora.
*Jornalista, escritor.- hugovaz@ymail.com
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